Voz Alta

Pela primeira vez em 16 anos de casados, meu marido levantou a voz numa discussão.

Eu perguntei porque ele estava gritando e ele respondeu que estava frustrado com nossa discussão.

Na verdade parecei que ele não tinha argumentos para contra-argumentar os meus e perdeu as estribeiras. Uma pena, pois eu parei de discutir, perdi o apetite e pedi desculpas.

Sobre o que discutimos?

Eu disse a ele que não queria fazer amizade com um amigo que está vindo morar ilegalmente na Inglaterra.

Arrependi-me.

O que eu ouvi de volta?

Que eu penso que apenas meus amigos são perfeito. (eu já cortei um monte da minha lista para ter paz de espírito). Que eu não gosto de nenhum amigo dele. (ele não tem amigos. É a pessoa mais isolada e anti-social que conheço). Que se os amigos deles não são bons ao meu ver significa que ele só atrai coisa/gente ruim para a vida dele e isso conclui que ele também não é bom suficiente. (essa é uma das leis do Universo, você mantém na sua vida o que você quer). Acrescentou ainda que eu. não gostava da cunhada dele (eu gosto dela mas não gosto daquela energia de arrependimento de não ter casado com ele. Não sou obrigada a aguentar isso. Mas reconheço que ela é uma pessoa de bom coração)

E como se a discussão não fosse o suficiente, começou a colocar meus amigos homens na conversa. Aí eu fiquei perdida na discussão. Falou de todos os amigos que são afim de mim. Das vezes que dormi na casa do Iso em São Paulo. Colocou o falecido Arnaldo na conversar e até o meu ex marido veio à tona.

Sabe de uma coisa? Ainda não conversei com ele sobre isso. Mas a sensação foi imediatamente sentir-me desamparada e frágil. A história da vítima ser a culpada. A única coisa errada que fiz, e prometi a mim mesma não fazer mais, foi deixar minha intuição falar mais alto. Nesse ponto ele tem razão. Eu não preciso prever e antever tudo. Eu posso deixar as coisas acontecerem e me surpreender positivamente. Afinal as chances são sempre 50/50, não são?

Pois é. Magoada. Arrasada. Sem apetite. E sentindo-me mais longe de casa que nunca. Acho que ontem seria o dia de ir para a casa dos meus pais. Mas… vivemos numa ilha.

Namsatê